27 de set. de 2017

Retina




Retina

Reges com tua batuta de condão
a orquestra dos poetas
- e o mais louco de todos
lança um olhar
bem no fundo da retina.
É pesada a noite:
nela despertas
em sobressalto.
Então percebes
que a flor lilás das madrugadas
ainda é o que mais te dói.

6 de abr. de 2016



                                   Programa Olhares agora em novo horário: 
                                 Segundas-feiras da 20:00h às 21:15h








18 de jul. de 2015

Matinal





Matinal
Alvaro Barcellos



Esta cantiga
que eu fiz pela manhã
Guarda teu cheiro
De anis e hortelã
Pode sua força
Deter um temporal
Tem um olhar no amanhã
E outro ancestral
Quando esse canto se fez
Começou a tomar
Seu feitio, sua forma
Trouxe a paixão que se faz
A paixão que nos move
A paixão que transforma
Ouve o canto que compus
Para serenar teu sono
Generoso, faz brotarem
Outras flores para o outono




Música: Matinal
CD: Cantigas de Andar Só

Autor: Alvaro Barcellos /Pedro Munhoz


10 de mai. de 2015

Um Céu de Tantos Remendos


NASCEU – agradecimentos 

Quero neste momento, agradecer a todos os amigos, familiares, incentivadores do meu trabalho como poeta e letrista ao largo desses anos todos... pela paciência, pelo carinho, pelas críticas...por tudo aquilo que nos faz conviver melhor, amar, discordar, crescer...
Finalmente meu PRIMEIRO LIVRO é uma realidade: UM CÉU DE TANTOS REMENDOS (ed. Penalux/SP)…livro de poemas...
Meu muito obrigado a Wilson Gorj e Tonho Franca – incansáveis na luta pelo espaço na cena literária a frente da Editora Penalux …que acolheu meu trabalho e afirmou: vamos bancar a edição...
Agradeço ao Lohan Lage Pignone - escritor (e cantor) carioca que ajudou a organizar um grande Concurso ano passado – o vencedor lançaria um livro pela Patuá, do não menos incansável Eduardo Lacerda – …pois eu tive a sorte e a felicidade de conquistar algum destaque
no Concurso – e as editoras alternativas (livres dos vícios de várias das outras) estavam atentas ao que ia rolando…o que sempre ajuda, naturalmente…
Daí, vários escritores de todo o país – mais de cem – tornaram-se meus amigos de feice por conta desse concurso…entre eles – dizem que nada se dá por acaso – a presença amiga do poeta talentoso Nathan Sousa, piauiense, que foi um elo de aproximação…
Ao meu estimado amigo – e grande contista – Aldyr Garcia Schlee, que escreveu um lindo prefácio…
À minha querida amiga poeta e romancista Ana Mariano Ana Mottin, que escreveu as abas (orelhas) de modo muito legal e sentido…
Finalmente, quero dizer que isso me deixa particularmente feliz…é em momento assim que a gente percebe que os SONHOS nos movem…graças e eles, surgem PROJETOS, que tornam palpáveis o que antes não passava de um (fundamental) sonho…

Então é isso…vamos nos falando pra VENDAS e tais…MUITO OBRIGADO a cada um…só não me estendo mais porque correria o sério risco de cometer grandes injustiças esquecendo do nome de alguém…BOA LEITURA a todos: UM CÉU DE TANTOS REMENDOS já é real!!!

28 de nov. de 2014

A faixa (de segurança) beatle





A faixa (de segurança) beatle
  
Caminham calmos
os quatro cavaleiros (do apocalipse?)
– os (re)inventores
de outras ondas e canções
os arquitetos de uns ventos meio insanos
os habitantes da lua e da corda-bamba.

E se tecem o arco-íris da canção
– em plena primavera aquariana –
abre John o compasso
cata estrelas nos bolsos
– e Abbey Road
os aguarda logo ali.

Em que pensam
esses quatro cavalheiros
ora em sintonia ora distantes?
Em que pensam nessa faixa
– nessa aurora
que tramam sob a flor desses acordes?

Paul vai descalço
– com seu terno chumbo
e o seu cigarro –
depois de Ringo
– a baqueta pulsante
da moçada flower power.

Por fim vai George
– na cabeça um oriente
com que tempera
o seu peito trovador
e que equilibra nas manhãs
todo seu sonho zen.

Caminham calmos
esses quatro caval(h)eiros
mas resolutos: vão cumprir seu destino.
Porque jamais puderam esquecer:
já não espera por ninguém
o trem da história.


ALVARO BARCELLOS
A partir da imagem da capa do álbum Abbey Road

25 de mai. de 2014

Coração do povos




Coração dos povos

Para Mario de Andrade e Enilton Grill Jr.


Sou uma onda de explosão e medo
que rebenta pelas praias
do coração da América.
Feito a embarcação abandonada
que se deixa devorar até o fim
meu tempo se esvai a esmo…

meus olhos se cansam
e dançam sem sentido
mas sei que há
um sentido em cada verso…

bebo cada gole
sem me importar
com o correr das horas
– as madrugadas passam
e no entanto sempre
estou a par do tempo.

Há na poesia
qualquer coisa que nos revigora
e mantém aceso
o coração dos povos
em sua ânsia de plantar
as novas sementes…

ainda tenho algum ar
e um outro tempo se anuncia
no sangue suave
de cada poema.


7 de jan. de 2014

Répteis


RR
Répteis
    

Palavras são
algo ofídios
algo répteis
(serpentes se deslocam
nas areias
escaldantes
do meu deserto

lagartos
com seus dentes pontiagudos
e olhos de predador
me fitam silenciosos).

Palavras vão
ecoam e pulsam.
Latidos cortam
a noite implacável
 – a noite que me abraça
e onde me perco
(água turva
solidão).
Palavras não.

 

15 de nov. de 2013

Sobre Cat Stevens




Sobre Cat Stevens

De ascendência grega, nascido na capital inglesa, Londres, em 1948, o cantor e compositor Cat Stevens costura canções de tendência folk, tendo se tornado um ícone do gênero.

Oh very Young, Moonshadow, Father and son, Old school yard e I love my dog despontam entre suas cativantes canções. Cantor e compositor de bons recursos, embora opte por caminhos musicais geralmente mais simples, Cat Stevens coleciona uma numerosa e exigente legião de seguidores e fãs.

Em 1978, todavia, abandonou o mundo da música, convertendo-se ao universo islã – o que o tornariapersona non grata dentro dos EUA e de Israel, onde sua presença não era tolerada. Em seu álbumIsitso, porém, Cat Stevens já prenunciava seu afastamento na bela canção I never wanted to be a star(em que confessava categoricamente que jamais pretendera tornar-se uma estrela).

Três décadas depois, porém, o velho Stevens retorna, ainda que timidamente, atendendo pelo nome de Yusuf Islam. Para tal, montou uma espécie de Café do Yusuf, no qual toca em companhia do filho, violonista e guitarrista. E vez em quando recebe convidados do mundo da música. Recentemente, o compositor paulista Renato Teixeira fez versão de Father and son, traduzindo literalmente o título original. Além disso, Yusuf gravou algumas canções suas em releituras geniais e sensíveis, inclusive ao lado de nomes como Peter Gabriel, o ex-líder do grupo Gênesis, que passou a ser liderado após sua saída, ainda nos anos 70, pelo compositor Phil Collins.






15 de set. de 2013

Nas praças




Nas praças

Aí estão as praças
e também aqui
e acolá
todo dia é dia
toda praça é praça
toda luta é luta
toda mãe é mãe
é madre
e madre em praça
é maio
el mayo de las locas
las locas em las plazas...
não sabem
– muitas delas –
onde estarão seus filhos
arrancados e sumidos
pelas garras da tirania...
mas as madres
essas estão
– e sempre estarão
com seu grito
e sua fibra –
ocupando as praças
porque no fundo da dor
toda madre es lucha.


24 de ago. de 2013

As chaves




As chaves


Se dissesse Deus
a palavra reta
como uma seta
a apontar saídas
a semear um sentido
para as nossas vidas...
se soprasse Deus
a palavra exata
a palavra nua
fosse como a lua
a cerzir rastros de prata
em plena noite escura...
ah! se pronunciasse Deus
a palavra essa
– essencial peça
a encaixar-se
no quebra-cabeça
do mundo –
suspiraríamos fundo
um suspiro de alívio
um suspiro de orvalho...
se tirasse Deus
esse ás da manga
de seu manto
quem sabe o encanto
que derramaria
do singelo gesto?
Se distribuísse Deus

um manifesto
que palavras conteria
que princípios de poesia
choveriam sobre nós?
Ah! se soltasse Deus
a sua voz
que lições encerraria
em seu discurso?
Traria alguma vida
e esperança
às cidades tensas
às aldeias tortas...

Traria as chaves
da felicidade.

Abriria as portas?